A partir de agosto, um projeto inovador irá analisar 2 mil amostras de solo no litoral paulista com o objetivo de mapear o potencial climático desses ecossistemas e investigar a presença de metais pesados.
Os manguezais do litoral paulista estão no centro de uma pesquisa inédita no Brasil, voltada para compreender profundamente o papel desses ecossistemas na regulação climática e na qualidade ambiental. Pela primeira vez, será realizado um levantamento detalhado do solo dos manguezais para medir o estoque de carbono — o chamado carbono azul — além de identificar elementos tóxicos como metais pesados.
Essa iniciativa é liderada pela Fundação Florestal, vinculada à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), em colaboração com o Centro de Pesquisa em Carbono na Agricultura Tropical (CCARBON), da Universidade de São Paulo (USP). Com duração de dois anos, o estudo faz parte do Programa de Gestão Integrada de Manguezais, que acaba de completar um ano de atuação.
A coleta das amostras será iniciada no próximo mês, abrangendo diversas áreas da costa paulista — incluindo regiões protegidas e outras fora de unidades de conservação. O processamento será feito em laboratórios da Esalq/USP, em Piracicaba. Com esses dados, será possível comparar a qualidade do solo e o potencial de retenção de carbono em bosques de mangue com diferentes níveis de impacto humano e proteção legal.
“Estimativas mostram que esses ecossistemas podem armazenar até cinco vezes mais carbono do que florestas terrestres, pela grande quantidade de matéria orgânica acumulada em seus solos”, explica Laís Zayas, coordenadora do Programa de Gestão Integrada de Manguezais.
“Vamos quantificar isso de forma concreta. Cada bosque difere: alguns sofrem mais influência da maré, outros da ocupação urbana. E isso afeta diretamente a capacidade de retenção de carbono e a saúde do ecossistema.”
Outro foco essencial da pesquisa será a avaliação da contaminação do solo. Os técnicos irão investigar a presença de metais como chumbo, mercúrio, cobre, arsênio e zinco. A compactação do solo, que favorece o sequestro de carbono, também pode prolongar o tempo de retenção de poluentes trazidos por esgoto, resíduos industriais ou outras fontes.
“Queremos entender se as unidades de conservação ajudam a mitigar a contaminação e como isso se reflete na fauna e na vegetação local. Cruzando os dados, poderemos identificar, por exemplo, se os manguezais mais poluídos têm menos caranguejos, menos aves ou vegetação mais fragilizada. Isso orienta diretamente a gestão ambiental e o planejamento territorial”, explica Maria Lanza, gestora da APA Marinha do Litoral Centro.
Mais do que um projeto científico, essa ação representa uma nova abordagem na gestão pública dos manguezais.
“Colocamos o manguezal em outro patamar. Estamos tratando esse ecossistema como protagonista nas discussões sobre clima, biodiversidade e sustentabilidade”, afirma Laís.
“A conservação dos manguezais não é só importante para a fauna e a flora, mas também representa ações de mitigação climática que o próprio ecossistema já está fazendo por nós.”
🔗 Saiba mais sobre as ações da Fundação Florestal: https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/fundacaoflorestal